Estou cansado desta vida, desta gente, deste cenário. Vou mudar de caminho, dar um novo rumo e um novo alento à minha vida.
A água do rio está limpa mas agitada. Estou hesitante, mesmo assim lanço-me ao rio a caminho da margem mais distante. Abandono a jangada na mira de nova vida, novos horizontes.
Cedo dou conta da presença daquilo que parecia ser um golfinho que me ajudaria a alcançar o outro lado do rio. Puro engano, tratava-se duma velha piranha, faminta, movimentando-se de forma turbulenta na minha direcção. Não vejo outro cenário que não seja ser devorado aos poucos e com sofreguidão.
De súbito percebo que me enganei quanto ao futuro. Apreensivo, procuro não oferecer resistência. Assim, talvez não seja devorado num ápice. Entretanto vou pensando, reflectindo. Entrego-me? Resisto? Por agora o meio termo permite-me continuar a alimentar a esperança de viver. De quando em vez venho à superfície e encho o pulmão, sempre pensando, reflectindo.
Quando o desespero me invade, quando a exaustão se apodera de mim, quando não tenho mais forças, quando já sem resistência quase me deixo consumir pelo mal, olho o "cais" na procura de auxílio, dos meus amigos. O local já é terra de ninguém. A jangada tinha partido.
Grito e aceno aos meus amigos. Luto desesperadamente com o que resta das minhas debilitadas forças, nadando na direcção da jangada em afastamento.
A piranha movimenta-se com dificuldade à minha volta, por ser velha ou por estar faminta e consequentemente debilitada. Mantêm-me sob controlo.
Liberto--me? Salvo-me? Alcanço a jangada? Volto para os meus amigos? Retomo a vida normal? Ou em desespero, como recurso, nado para a margem pejada de cobras e jacarés? Entretanto os meus amigos conformados seguiam o seu destino. Continuo nadando desesperadamente procurando ir no seu encalce.
Duma coisa estou certo: Só os humanos me podem salvar. Doutra forma serei consumido pelo inimigo que apenas libertará a carcaça do meu ser que arrastada pela corrente se imobilizará num qualquer madeiro velho preso no lodo junto à margem. Na ocasião, até os répteis me ignorarão pois a parte boa de mim já foi totalmente devorada pela velha piranha.
Estarei sonhando, vivendo um pesadelo?
Nota: A piranha fez uma vitima? Se entretanto não for capturada, viverá seguramente o resto da vida sob o sindroma da perseguição.
Quando você parte e a jangada fica.
ResponderExcluirEstou cansado desta vida, desta gente, deste cenário. Vou mudar de caminho, dar um novo rumo e um novo alento à minha vida.
A água do rio está limpa mas agitada. Estou hesitante, mesmo assim lanço-me ao rio a caminho da margem mais distante. Abandono a jangada na mira de nova vida, novos horizontes.
Cedo dou conta da presença daquilo que parecia ser um golfinho que me ajudaria a alcançar o outro lado do rio. Puro engano, tratava-se duma velha piranha, faminta, movimentando-se de forma turbulenta na minha direcção.
Não vejo outro cenário que não seja ser devorado aos poucos e com sofreguidão.
De súbito percebo que me enganei quanto ao futuro. Apreensivo, procuro não oferecer resistência. Assim, talvez não seja devorado num ápice. Entretanto vou pensando, reflectindo. Entrego-me? Resisto? Por agora o meio termo permite-me continuar a alimentar a esperança de viver. De quando em vez venho à superfície e encho o pulmão, sempre pensando, reflectindo.
Quando o desespero me invade, quando a exaustão se apodera de mim, quando não tenho mais forças, quando já sem resistência quase me deixo consumir pelo mal, olho o "cais" na procura de auxílio, dos meus amigos. O local já é terra de ninguém. A jangada tinha partido.
Grito e aceno aos meus amigos. Luto desesperadamente com o que resta das minhas debilitadas forças, nadando na direcção da jangada em afastamento.
A piranha movimenta-se com dificuldade à minha volta, por ser velha ou por estar faminta e consequentemente debilitada. Mantêm-me sob controlo.
Liberto--me? Salvo-me? Alcanço a jangada? Volto para os meus amigos? Retomo a vida normal? Ou em desespero, como recurso, nado para a margem pejada de cobras e jacarés? Entretanto os meus amigos conformados seguiam o seu destino.
Continuo nadando desesperadamente procurando ir no seu encalce.
Duma coisa estou certo: Só os humanos me podem salvar. Doutra forma serei consumido pelo inimigo que apenas libertará a carcaça do meu ser que arrastada pela corrente se imobilizará num qualquer madeiro velho preso no lodo junto à margem. Na ocasião, até os répteis me ignorarão pois a parte boa de mim já foi totalmente devorada pela velha piranha.
Estarei sonhando, vivendo um pesadelo?
Nota: A piranha fez uma vitima? Se entretanto não for capturada, viverá seguramente o resto da vida sob o sindroma da perseguição.