Autor: Joan Borysenko, autora, médica, pesquisadora, ph. D. e psicóloga clínica norte-americana. É autora de trabalhos em que reúne a medicina, a psicologia e a espiritualidade a serviço da cura individual e coletiva. É autora do best-seller Minding the Body, Minding the Mind.
"As pessoas querem servir os outros e não desejam ser egoístas. Mas se você não servir a si mesmo estará sendo egoísta, porque nunca vai conseguir se ligar amorosamente a um círculo mais amplo, e muito menos a outra pessoa."
É uma lei inviolável. E isto é o que ela tem de melhor: o que você dá, você recebe.
Há pouco tempo, fui à festa de casamento de uma amiga. Aos quarenta e poucos anos, ela estava se casando pela primeira vez e, com o otimismo típico dessas ocasiões, esperava que fosse a única. Éramos mais de dez mulheres e alguém teve uma idéia de que gostei muito: cada uma devia comentar os aspectos que, em sua opinião, fossem os mais críticos em um relacionamento amoroso.
Foi fascinante ouvi-las - umas sérias, outras engraçadas, outras muito irreverentes - enquanto pensava no que diria quando chegasse a minha vez.
O que eu tentei dizer foi o seguinte: "Um dos aspectos mais importantes em um relacionamento amoroso é a gratidão pelo parceiro - ou parceira -, pelos dons que ele - ou ela nos dá." Além de tomar consciência dessa gratidão, devemos expressá-la. É de vital importância agradecer constantemente às outras pessoas por todos seus gestos e atos amorosos.
Essa atitude se enquadra no que chamo de "não considerar nada como natural", como se nos fosse devido. Acolher cada gesto de bondade ou ato generoso como um presente. Basta reconhecê-lo como tal: "Ah, você está me dando um presente." E agradecer por ele.
Temos que estar atentos para o fato de que o amor é um dom. Ao recebê-lo, basta dizer "Obrigado", "Fico grata". É extremamente simples, mas muito valioso.
Outro aspecto da troca de amor é a importância da honestidade e da comunicação permanente. Porque, muitas vezes, o que parece amor não é amor. Aceitar a agressão do outro sem reclamar, em nome do amor, é desrespeitar o parceiro, à medida que deixamos que desenvolva atitudes que são negativas para ele mesmo. Além disso, por menos que queiramos, vamos acumulando queixas, animosidade, ressentimento, até não agüentarmos mais e explodirmos. Esse "lixo" acumulado fecha a estrada por onde circula a troca do amor.
Para manter aberto e claro o canal da comunicação, é preciso vontade firme para falar sobre assuntos delicados. Isso não é fácil. É complicado dizer coisas que provavelmente irão desagradar quem vai ouvi-las. Isso é amor? É, sim. E quanto menos tempo entre a certeza de que é preciso falar e a própria conversa, melhor. Não se trata de agredir de volta, mas de denunciar uma situação que prejudica o amor. E de fazê-lo em nome do amor, porque queremos mantê-lo e porque desejamos o bem tanto da relação quanto do nosso parceiro. A honestidade na comunicação é uma arte que está ligada à capacidade de dar e receber amor verdadeiro.
Todos nós precisamos conhecer-nos, sermos francos, administrar da melhor maneira possível nossa vida emocional. Percebo que as mulheres são em geral mais dedicadas, solidárias e generosas na doação do amor. Mas têm uma certa dificuldade em receber. Tendem a negar e esconder suas necessidades e carências, e, ao não receber o que precisam. Começam a acumular ressentimentos.
Resultado final: elas se doam tanto, que parece não sobrar nada. Com sua compaixão e vontade de ajudar a todos, correm o risco de se perder ou serem manipuladas. Em workshops, freqüentemente ouço este lamento: "Como é que pode? Durante a vida toda eu fui generosa, perdoei e acabei uma pessoa amarga, apática e submissa!"
Costumamos ensinar um tipo de meditação que a tradição budista chama de Tonglen - a meditação do dar e receber. É um exercício de visualização. Você começa fazendo para si mesmo, pois os budistas acreditam que só quem dá primeiro a si tem condições de dar aos outros. É preciso cuidar primeiro de si. A seguir, faz em favor dos entes queridos. Depois, para as pessoas com quem você possa estar em conflito. E assim por diante, cada vez para um círculo maior de pessoas.
Primeiro, visualize seu próprio sofrimento como se fosse uma fumaça em volta do seu coração. Inspire essa fumaça e leve-a até a luz que existe dentro do seu coração e, quando ela se dissipar, expire a luz de seu coração em seu próprio benefício. Depois faça isso pelos outros - inspirando seu sofrimento e expirando sua própria felicidade, a plenitude da sua verdadeira natureza. O resultado costuma ser, inicialmente, uma sensação de alívio porque, no fundo, sabemos que, se não cuidarmos de nós, não podemos cuidar dos outros.
O mais incrível dessa imagem tibetana é que, quando assumimos generosamente a dor do outro, ela não fica guardada dentro de nós. Ela se consome, se dissipa em nosso coração, deixando uma energia extra em forma de luz. Esta energia continua a nos iluminar, mesmo depois de soprarmos em direção ao outro.
O exercício de meditação enfatiza este princípio psicológico básico - é absolutamente necessário você cuidar primeiro de si. Senão, ao assumir a dor e os problemas alheios, você vai ficar esperando um retorno. Vai inconscientemente cobrar do outro. E a pessoa beneficiada irá se sentir enfraquecida e, provavelmente, ressentida.
Mary Oliver tem um lindo poema, The journey (A viagem): O último verso diz que cada um só é capaz de salvar a si mesmo. Não existe verdade maior. As pessoas querem servir os outros e não desejam ser egoístas. Mas se você não servir a si mesmo estará sendo egoísta, porque nunca vai conseguir se ligar amorosamente a um círculo mais amplo, e muito menos a outra pessoa.
Gosto muito da Prece da Serenidade. Essa oração pede serenidade para aceitar o que não se pode modificar, coragem para mudar o que pode ser mudado e sabedoria para perceber a diferença. Vamos imaginar que você olhe para a sua vi da e diga: "Há alguma coisa errada. Sinto uma enorme insatisfação e falta de amor." Seria ridículo acrescentar "Ah, não faz mal, espiritualmente vai tudo bem, vou me resignar, continuar amando todo mundo e ser feliz deste jeito".
Resignar-se, aceitando a situação, pode ser a pior escolha. Talvez seja preciso romper uma amizade, terminar o casamento, usar de firmeza amorosa com seus filhos. Não se pode passar por cima de necessidades psicológicas básicas na esperança de alcançar um reino espiritual maior e mais rico. Não é fácil aprender a pedir aquilo de que você precisa. Não é fácil pedir aos filhos, amigos ou companheiros o que você precisa. Nem é fácil pedir ao Grande Espírito, ao grande mistério. Mas é necessário aprender a pedir. E o meio mais fácil de aprender a pedir é pedindo. Só se aprende fazendo. Peça explicitamente. O Grande Espírito deseja que você o faça. Seu companheiro - ou companheira - não sabe ler pensamentos: diga clara e serenamente o que deseja.
Sempre acreditei na necessidade de conhecer bem o terreno para evitar as minas enterradas. Aprenda a ler os sinais, não os despreze nunca. Mesmo o lado mais obscuro nos oferece suas lições. A raiva é uma grande mestra que nos ensina a dar e receber amor, porque raiva é resposta a uma ação. É como um gongo que soa anunciando: "Alguma coisa está completamente errada." A mensagem pode ser penosa, mas é simples e clara.
As mensagens alegres também são claras e simples. Agradecer, incentivar, dizer: "Você me ajuda a viver" são atitudes que despertam mais amor nas pessoas, levando-as a reproduzir o mesmo gesto. Até que um dia, eu espero, estaremos cercados de gente generosa, cuja simples presença nos fará bem.
É uma lei inviolável: o que você dá você recebe. Expressar gratidão é em si um dom simples. Mas seu efeito é prodigioso: cria mais amor no mundo.
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