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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Que vazio é esse em sua vida? por Patricia Gebrim



 Bachiana no 5 
"Criar é uma forma saudável de suprir a sensação de vazio. Não é preciso ser um Monet ou um Villa Lobos. Um simples bolo caseiro, por exemplo, feito com aquele toque especial, traz à tona aquele potencial criativo que tanto faz bem!

Quantas vezes eu ouço as pessoas falarem sobre esse tal “vazio”. Como se existisse um espaço mal-assombrado dentro de cada ser humano, um lugar dentro do qual todas as pessoas, em algum momento de suas vidas, acabassem caindo, para não mais sair de lá.

- Sinto um vazio dentro de mim! - quantas vezes já ouvi essa frase, com suas inúmeras variações...

Que vazio é esse afinal??? E o que fazer com ele???
Na dúvida, acabamos achando que esse buraco é sinal de algum defeito, e que devemos preenchê-lo o mais rapidamente possível. Perceba quantas “besteiras” acabamos fazendo na tentativa de preencher esse espaço que tanto nos assusta.

Nos envolvemos em relacionamentos com pessoas com as quais não temos nenhuma afinidade, estouramos nosso cartão de crédito, compramos todo tipo de coisas das quais não precisamos, comemos mais do que necessitamos, bebemos mais do que seria saudável, aceitamos ir a lugares aos quais na verdade não gostaríamos de ir, convivemos com pessoas que sugam toda a nossa energia, andamos para lá e para cá como baratas tontas, tudo com a intenção de preencher o vazio.

E mais... traímos a nossa verdade, nos sentimos “defeituosos” (pessoas perfeitas não teriam um buraco lá dentro!), sentimos vergonha de nós mesmos, criamos falsas máscaras para fingir que não somos ocos, fugimos desesperadamente e nos envolvemos em todo tipo de atividade frenética para não nos lembrar que ele continua lá, quieto, imenso... um buraco enorme na nossa auto-estima.

Fazemos tudo isso para evitar o vazio... mas sabe o que é pior?... nada disso funciona!

Agora ouça, é sério:
- Não há nada de errado em você sentir esse vazio aí dentro... não há nada de errado ao sentir-se incompleto, com essa sensação de que “falta algo”. - É claro que falta algo!
- Sempre irá faltar!


Existe algo maior, mais belo, que cada um de nós veio aqui para realizar. Entenda... por maior não quero dizer aquele tipo de grandeza que é acessivel apenas a alguns. Falo de algo a que todos nós temos acesso, falo daquela grandeza de alma que nos torna verdadeiramente humanos, capazes de criar, capazes de amar... Pois eu acredito que o vazio exista para nos lembrar exatamente disso!

E se eu lhe disser que devemos tudo o que existe de belo no mundo à existência desse vazio?
E se fosse mais ou menos assim...

Um dia um Monet acorda e sente um buraco bem no meio da sua barriga, ou talvez no meio do peito (o vazio às vezes gosta de mudar de lugar dentro de nós)... sente-se mal com o tal buraco... pega seus pincéis e, no branco vazio de uma tela, pinta os mais belos jardins.

Outro dia um Villa Lobos acorda incomodado, sente algo estranho, como se fosse uma fome por dentro, uma coisa que aperta seu peito, esmaga seu coração solitário... e, no vazio do silêncio, compõe a mais bela bachiana... (ah, você já ouviu a Bachiana no 5 do Villa Lobos?)

Um dia um cientista é acordado por um buraco bem no meio da sua cabeça... tantas coisas sem explicação no mundo o angustiam e tiram seu sono... e no silencioso vazio de respostas brota, quase miraculosamente em sua mente, uma solução para uma doença que aflige toda a humanidade.

Outro dia uma dona de casa qualquer, em uma casa qualquer, acorda e olha ao redor... os filhos já se foram, o marido está trabalhando... Na solidão de sua vida decide cozinhar e assa o mais delicioso bolo que uma mulher já foi capaz de fazer. E no vazio daquela casa surge um aroma que a transforma imediatamente em um lar; quente, acolhedor, cheio de amor.

Assim, acreditem, não há como nos livrarmos desse tal vazio (ainda bem), mas podemos “escolher” o que fazer com ele.
Podemos transformá-lo em um mar de lamentações, e navegar por ele por toda uma vida, como se fôssemos um navio fantasma rangendo nossas ferragens por aí.
Mas podemos também... criar!

Essa é a palavra-chave para transformar o vazio que existe dentro de nós no espaço mais sagrado que um dia seremos capazes de adentrar.

E é no vazio da terra que uma semente pode brotar, no vazio na mente que o inusitado pode se libertar, no vazio de saber que a real sabedoria encontra espaço, no vazio de crenças que ganhamos a liberdade de escolher no que acreditar!


O vazio nos torna livres... pensem nisso!

Veja, Lao Tse , em 99 a.C., já sabia disso, veja o que diz seu tratado, o Tao Te King:
“Trinta raios convergentes, unidos ao meio, formam a roda, mas é seu vazio central que move o carro.
O vaso é feito de argila, mas é o seu vazio que o torna útil.
Abre-se portas e janelas nas paredes de uma casa, mas é seu vazio que a torna habitável.”

Assim... não tema o vazio, talvez ele seja o maior presente que recebemos. A verdade é que sem o vazio seríamos tristes caricaturas de quem de verdade podemos ser. Seja corajoso. Aceite-o e permita que ele lhe inspire a tornar-se quem você de verdade é. 

O que seria de uma vida sem o mistério... sem a noite... sem as estrelas?

É no vazio que mora a nossa musa,
e as mais belas idéias,
e os sonhos,
e a poesia... 

Aceite o vazio e... se puder... ame-o.
O que vai acontecer então?... 

Não vou lhe dizer!
Descubra por si mesmo"... 
Patricia Gebrim

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