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terça-feira, 27 de abril de 2010

E se um dia tudo terminar... relacionamentos


Por Sandra Maia . 27.04.10 - 14h43
Quando vivemos em suspense
Para muitos, relacionar-se é viver num thriller – num filme de suspense. A vida fica mais complexa e o que chamam de amor se confunde com qualquer coisa. Pode ser controle, incapacidade de olhar para dentro, pode ser baixa estima, falta de autoconhecimento, co-dependência, paixão… Pode ser tudo e nada.

A relação é mesmo vivida no tom dos parques de diversões – muita adrenalina, risco de morte iminente, quedas vertiginosas e subidas alucinantes e avassaladoras! Difícil abrir mão? Sim, é praticamente impossível deixar para lá, somos arrastados pelo furacão.

Luto
Esse tipo de relação acontece, nos trata e maltrata. Em longo prazo, vicia e nos faz reféns do que co-criamos. O que acontece a curto, às vezes curtíssimo prazo, termina! A relação acaba e deixa um estrago imenso no coração, na alma, na vida. E, de repente nos vemos lá – vivendo o luto daqueles que perdemos.

O que me chama mais atenção nesse caso é o desequilíbrio. É verdade que toda relação, quando acaba, nos entristece. Demanda um período de readaptação. Pede mesmo o luto – para que possamos reavaliar tudo o que vivemos e, nesse meio tempo, nos preparar para o que esta por vir. Quem sabe, nos preparar para um futuro amor.

O desequilíbrio vem no tempo da relação versus o tempo do luto. Imagine uma relação de 10, 20, 30 anos que se rompe. As marcas, a dor, o sofrimento são imensos. Esta semana mesmo, conversando com um amigo – casado há 30 anos –, ele afirmava: “Se minha mulher me deixar morro. Não sei o que seria vida sem ela”.

Uma união estável e de tampo tempo une amizade, cumplicidade, amor, vida, construção, evolução, desenvolvimento, inspiração. A perda de um parceiro de tanto tempo abate, deprime, enlouquece e demora meses – talvez anos – para ser totalmente absorvida.

Muito barulho
No entanto, quando uma relação de 1, 2, 3 meses ou até mesmo outras relações que duram semanas é rompida, o estardalhaço que faz é às vezes maior do que poderia. Maior do que deveria ser… Então – como diz um amigo – perdemos o rumo.

Queremos a qualquer custo manter a relação – pedimos a Deus para nos deixar ficar com aquele outro, que já decidiu: não quer mais. Então insistimos, nos humilhamos, controlamos, atormentamos. Em algumas situações conseguimos ganhar e, então, a um custo altíssimo, estendemos nosso sofrimento e do outro por mais alguns dias…

Soltar
Quando temos de manter uma relação a qualquer custo, não funciona. O outro se sente pressionado, nós nos sentimos menos, criamos um círculo de ressentimento e agressividade que não acrescenta nada.

Há solução? Quero crer que uma única: quando o outro quer ir, deixá-lo ir.

E mais: ser forte para aceitar e confiar que, sim, será melhor para ambos. O luto da perda não pode ser eterno, não deveria ser desproporcional ao tempo da relação. Não deveria ser uma justificativa para nos fechar e nunca mais nos relacionar.

Um amigo há pouco me contou uma história desse tipo: uma de suas amigas havia vivido um único relacionamento que durou menos de um mês. Eles romperam. Orapaz está bem, vive a vida, teve inúmeros outros relacionamentos… Elase fechou para a vida, para o amor, para qualquer oportunidade de relacionamento. Vive em luto até hoje – e já se passaram anos.

Ainda chora quando escuta a música que ouviam, fica depressiva toda vez que tem notícias dele – com outras –, imagina que a vida era vida quando “se amavam”, não se cuida – ao contrário se descuida para de alguma forma chamar mais atenção e, sabotando a si própria, inviabilizar qualquer outra nova relação.

Oito ou oitenta
Parece familiar ? Já viveu ou conhece pessoas assim? Pois é, algumas têm a força para abrir mão disso tudo, buscar ajuda, crescer, evoluir… Outras entram em tantas relações quanto for necessário para fazer valer sua fantasia, isto é, escolhem sempre o que não vai dar certo, fazem sempre tudo igual e acreditam que o resultado poderá ser diferente.

Algumas ainda fazem o pior – se enclausuram, deixam a vida passar e, pensam de algum modo punir ao outro quando de fato estão se punindo… Enfim, sair do buraco, acordar, despertar para a vida demanda saber quem somos, onde estamos, para onde vamos.

Até Alice no País das Maravilhas ensina isso – acordar é possível e, podemos escolher deixar um sonho ruim e escolher um sonho bom toda vez que quisermos! Escolhas, sempre escolhas.