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terça-feira, 1 de novembro de 2011

O DIÁRIO DE ANNE FRANK





Espero poder confiar inteiramente em você, como jamais confiei em alguém até hoje,
e espero que você venha a ser um grande apoio e um grande conforto para mim.

(Anne Frank, 12 de junho de 1942.)
Assim, Anne Frank inicia o seu famoso diário, que ela escreveu em seu refúgio, que ficava na casa de trás (1942 a 1944).







... Daí, este diário. A fim de destacar na minha imaginação a figura da amiga por quem esperei tanto tempo, não vou anotar aqui uma série de fatos banais, como faz a maioria. Quero que este diário seja minha amiga e vou chamar esta amiga de Kitty. Mas se eu começasse a escrever a Kitty, assim sem mais nem menos, ninguém entenderia nada. Por isso, mesmo contra minha vontade, vou começar fazendo um breve resumo do que foi minha vida até agora."
Domingo, 14 de junho de 1942
Vou começar a partir do momento em que ganhei você, quando o vi na mesa, no meio dos meus outros presentes de aniversário. (Eu estava junto quando você foi comprado, e com isso eu não contava.)
Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas, o que não é de espantar; afinal, era meu aniversário. Mas não me deixam levantar a essa hora; por isso, tive de controlar minha curiosidade até quinze para as sete. Quando não dava mais para esperar, fui até a sala de jantar, onde Moortje (a gata) me deu as boas-vindas, esfregando-se em minhas pernas.
Pouco depois das sete horas, fui ver papai e mamãe e, depois, fui à sala abrir meus presentes, e você foi o primeiro que vi, talvez um dos meus melhores presentes. Depois, em cima da mesa, havia um buquê de rosas, algumas peônias e um vaso de planta. De papai e mamãe ganhei uma blusa azul, um jogo, uma garrafa de suco de uva, que, na minha cabeça, deve ter gosto parecido com o do vinho (afinal de contas, o vinho é feito de uvas), um quebra-cabeça, um pote de creme para o corpo, 2,50 florins e um vale para dois livros. Também ganhei outro livro, Câmera obscura, mas Margot já tem, por isso troquei o meu por outro, um prato de biscoitos caseiros (feitos por mim, claro, já que me tornei especialista em biscoitos), montes de doces e uma torta de morangos, de mamãe. E uma carta da vó, que chegou na hora certa, mas, claro, isso foi só uma coincidência.
Depois, Hanneli veio me pegar, e fomos para a escola. Na hora do recreio, distribuí biscoitos para os meus colegas e professores e, logo depois, estava na hora de voltar aos estudos. Só cheguei em casa às cinco horas, pois fui à ginástica com o resto da turma. (Não me deixam participar, porque meus ombros e meus quadris tendem a se deslocar.) Como era meu aniversário, pude decidir o que meus colegas jogariam, e escolhi vôlei. Depois, todos fizeram uma roda em volta de mim, dançaram e cantaram "Parabéns pra você". Quando cheguei em casa, Sanne Ledermann já estava lá. Ilse Wagner, Hanneli Goslar e Jacqueline van Maarsen vieram comigo depois da ginástica, pois somos da mesma turma. Hanneli e Sanne eram minhas melhores amigas. As pessoas que nos viam juntas costumavam dizer: "Lá vão Anne, Hanne e Sanne." Só fui conhecer Jacqueline van Maarsen quando comecei a estudar no Liceu Israelita, e agora ela é minha melhor amiga. Ilse é a melhor amiga de Hanneli, e Sanne é de outra escola e tem amigos lá.
Elas me deram um livro lindo: Nederlandse Sagen en Legenden (Contos e Lendas da Holanda), mas por engano deram o volume II, por isso troquei o livro II pelo volume I. Tia Helene me trouxe um quebra-cabeça, tia Stephanie, um broche encantador, e tia Leny, um livro fantástico: Daisy vai às montanhas.
Hoje de manhã, fiquei na banheira pensando em como seria maravilhoso se eu tivesse um cachorro como Rin Tin Tin. Eu também iria chamá-lo de Rin Tin Tin e o levaria para a escola; lá, ele poderia ficar na sala do zelador ou perto dos bicicletários, quando o tempo estivesse bom.

Segunda-feira, 15 de junho de 1942
Minha festa de aniversário foi no domingo à tarde. O filme de Rin Tin Tin fez o maior sucesso entre minhas colegas de escola. Ganhei dois broches, um marcador de livros e dois livros.
Vou começar dizendo algumas coisas sobre minha escola e minha turma, a começar pelos alunos.
Betty Bloemendaal parece meio pobre, e acho que talvez ela seja. Ela mora numa rua que não é muito conhecida, no lado oeste de Amsterdã, e nenhuma de nós sabe onde fica. Ela se dá muito bem na escola, mas é porque estuda muito, e não porque seja inteligente. É muito quieta.
Jacqueline van Maarsen é, talvez, minha melhor amiga, mas nunca tive uma amiga de verdade. No começo, achei que Jacque seria uma, mas estava redondamente enganada.
D.Q.* é uma garota muito nervosa que sempre esquece as coisas, de modo que os professores vivem passando dever de casa extra para ela, como castigo. É muito gentil, especialmente com G.Z.
E.S. fala muito e não é engraçada. Vive mexendo no cabelo da gente ou tocando em nossos botões quando pergunta alguma coisa. Dizem que ela não me suporta, mas não ligo, porque também não gosto muito dela.
Henny Mets é uma garota legal, tem um jeito alegre, só que fala em voz alta e parece mesmo uma criança quando estamos brincando no pátio. Infelizmente, Henny tem uma amiga que se chama Beppy que é má influência para ela, porque é suja e vulgar.
J.R. — eu poderia escrever um livro inteiro sobre ela. J. é uma fofoqueira insuportável, sonsa, presunçosa e de duas caras, que se acha muito adulta. Ela realmente enfeitiçou Jacque, e isso é uma vergonha. J. se ofende à toa, chora pela menor coisa e, além disso tudo, é metida demais. A Srta. J. é a dona da verdade. Ela é muito rica e tem um armário repleto de vestidos maravilhosos, que são adultos demais para a sua idade. Ela se acha linda, mas não é. J. e eu não nos suportamos.
Ilse Wagner é uma garota legal, tem um jeito alegre, mas é afetada demais e consegue passar horas gemendo e reclamando de alguma coisa. A Ilse gosta um bocado de mim. É muito inteligente, mas preguiçosa.
Hanneli Goslar, ou Lies, como todos a chamam na escola, é meio estranha. Costuma ser tímida — expansiva em casa, mas reservada quando está perto de outras pessoas. Conta para a mãe tudo que a gente diz a ela. Mas ela diz o que pensa, e ultimamente passei a admirá-la bastante.
Nannie van Praag-Sigaar é pequena, engraçada e sensível. Acho que ela é ótima. É muito inteligente. Não há muito o que dizer sobre Nannie.
Eefje de Jong é, em minha opinião, fantástica. Apesar de só ter 12 anos, é a própria lady. Age como se eu fosse um bebê. Além disso, é muito atenciosa, e eu gosto dela.
G.Z. é a garota mais bonita da turma. Tem um rosto bonito, mas é meio burra. Acho que vão fazer ela repetir o ano, mas claro que eu não lhe dei a notícia.
Nota: Comentário acrescentado por Anne mais tarde:
No fim das contas, para minha grande surpresa, G.Z. não repetiu o ano.
E, sentada perto de G.Z., fica a última das 12 meninas: eu.
Há muito o que dizer sobre os garotos, ou talvez não muito, pensando melhor.
Maurice Coster é um de meus muitos admiradores, mas é uma tremenda peste.
Sallie Springer tem uma mente imunda, e todo mundo fala que ele já fez de tudo. Mesmo assim, acho ele fantástico, porque é muito engraçado.
Emiel Bonewit é admirador de G.Z., mas ela nem liga. Ele é bem chato.
Rob Cohen também andou apaixonado por mim, mas não aguento mais ele. É um patetinha antipático, falso, mentiroso e manhoso que se acha simplesmente o máximo.
Max van de Velde é um camponês de Medemblik, mas um cara legal, como diria Margot.
Herman Koopman também tem a mente suja, como Jopie de Beer, que adora paquerar e é completamente louco pelas garotas.
Leo Blom é o melhor amigo de Jopie de Beer, mas foi prejudicado por sua mente suja.
Albert de Mesquita veio da Escola Montessori e pulou de ano. É inteligente de verdade.
Leo Slager veio da mesma escola, mas não é tão inteligente. Ru Stoppelmon é um garoto baixinho e bobo, de Almelo, que foi transferido para esta escola no meio do ano. C.N. faz tudo o que não deve.
Jacques Kocernoot senta atrás de nós, perto de C., e nós (G. e eu) morremos de rir.
Harry Schaap é o garoto mais decente de nossa turma. Ele é legal.
Werner Joseph também é legal, mas as mudanças que vêm acontecendo ultimamente fizeram ele ficar quieto demais, por isso parece chato.
Sam Salomon é um daqueles caras valentões e destrambelhados, um verdadeiro palhaço. (Admirador!)
Appie Riem é bem ortodoxo, mas também é um pestinha.

Quem escreve um diário, procura anotar seus pensamentos íntimos e reflexões. Anne Frank tenta descrever, o máximo possível, a vida cotidiana da casa de trás e as notícias que chegam de fora. Às vezes acontecem casos emocionantes para relatar, como bombardeios e tentativas de assaltos no meio da noite. Durante a narrativa, Anne consegue comentar de forma acertada as transformações de cada um dos que estão escondidos com ela, com sinceridade e um tanto irreverente em várias ocasiões. Anne Frank descreve as coisas com seu espírito crítico; não somente as alheias, mas também as próprias.
Como não tem nenhuma amiga para compartilhar suas intimidades, escreve longas cartas a uma amiga imaginária chamada Kitty. As cartas escritas a Kitty se multiplicam com rapidez. Durante sua permanência no refúgio, o diário torna-se muito importante para ela. Serve como um desabafo. Em 16 de março de 1944, Anne anota: “O melhor de tudo é o que penso e sinto, pelo menos posso descrever; senão, me asfixiaria completamente”.

Sábado, 20 de junho de 1942
Querida Kitty
Tenho em meu caráter um traço predominante que salta aos olhos de quem me conhece há algum tempo: é o conhecimento que tenho de mim mesma. Consigo fiscalizar-me e aos meus atos como se fosse uma estranha. Sou capaz de encarar a Anne de todos os dias sem preconceitos e sem fazer concessões, observando o que há de bom e de mau. Essa autocrítica me acompanha sempre, e, cada vez que falo alguma coisa, sei imediatamente se devia Ter falado de outra maneira ou se estava bem assim. Há muita coisa que condeno em mim. Seria uma longa lista! Cada vez mais, reconheço a verdade que havia nas palavras de papai: "Aos pais cabe dar conselhos e indicar caminhos, mas a formação final do caráter de uma pessoa está em suas próprias mãos."
Vou começar já. Está tudo tão calmo! O papai e a mamãe saíram e Margot foi à casa de uma amiga jogar pingue-pongue. Também me apaixonei ultimamente por este jogo.
Como nós, os jogadores de pingue-pongue, gostam muito de tomar sorvetes, o jogo acaba quase sempre numa excursão a qualquer das confeitarias onde os judeus ainda podem entrar: "Delphi" ou "Oásis". Não importa se temos muito ou pouco dinheiro na carteira. As duas confeitarias estão tão cheias que entre toda aquela gente sempre se encontram meninos das nossas relações ou até um ou outro admirador. E tantos sorvetes nos querem oferecer que nem numa semana seríamos capazes de os tomar todos.
Presumo que você ficou admirada por eu, apesar de tão nova, já falar em admiradores.
Infelizmente isto é inevitável na nossa escola. Quando um dos meninos pergunta se pode acompanhar-me até em casa de bicicleta é certo e sabido que se apaixona logo por mim e que não me perde de vista durante algum tempo. Depois, pouco a pouco, vai acalmando, sobretudo porque eu faço de conta que não vejo os olhares apaixonados e continuo alegremente a pedalar. Se, por vezes, aquilo passa do limite, começo a fazer umas piruetas na bicicleta, a minha pasta cai no chão e, por amabilidade, o garoto apanha a pasta e até me devolver tem tempo para se acalmar. Estes ainda assim são os mais inofensivos, mas há também alguns que nos atiram beijos ou nos tocam no braço. Mas comigo a coisa não pega. Quando isso acontece, desço da bicicleta e digo que dispenso a companhia ou finjo que estou ofendida e mando-os passear.
E pronto, Kitty, foi colocada a primeira pedra da nossa amizade. Até amanhã!
Sua Anne.




Aos jovens é um tanto difícil conservar opiniões...
Anne preenche folhas e folhas de seu diário, durante os dois anos em que passou na clandestinidade. O fato de que deve manter-se em pé naquelas circunstâncias tão peculiares, faz com que amadureça mais rápido do que os outros jovens de sua idade.
A parte final do Diário de Anne Frank é de uma profundidade impressionante. Mostra uma jovem não diferente das jovens de hoje. O tempo em que ela viveu é parecido com o nosso porque, atualmente, temos os mesmos anseios, as mesmas preocupações e as mesmas expectativas de como será o futuro...


Querida Kitty
Recebemos da biblioteca um livro com um título que era um desafio: Que pensa você da jovem moderna?
Quero falar sobre isso com você.
A autora do livro condena a “juventude de hoje” da cabeça aos pés. Sem condenar, no entanto, os jovens em geral como “incapazes de qualquer coisa boa”. Ao contrário, acredita que estaria nas mãos dos jovens construir um mundo melhor e mais belo, se simplesmente quisessem; mas diz que a maioria se ocupa de superficialidades, sem parar para pensar na real beleza.
Em algumas passagens a escritora parecia estar se dirigindo especificamente a mim com suas críticas, eis por que desejo mostrar-me a você completamente desnudada e me defender desse ataque.
Tenho em meu caráter um traço predominante que salta aos olhos de quem me conhece há algum tempo: é o conhecimento que tenho de mim mesma. Consigo fiscalizar-me e aos meus atos como se fosse uma estranha. Sou capaz de encarar a Anne de todos os dias sem preconceitos e sem fazer concessões, observando o que nela há de bom e de mau. Essa autocrítica me acompanha sempre, e, cada vez que falo alguma coisa, sei imediatamente se devia ter falado de outra maneira ou se estava bem assim. Há muita coisa que condeno em mim. Seria uma longa lista! Cada vez mais, reconheço a verdade que havia nas palavras de papai: “Toda criança tem que zelar pela própria educação”. Aos pais cabe dar conselhos e indicar caminhos, mas a formação final do caráter de uma pessoa está em suas próprias mãos.
Somado a tudo isso, sou dona de grande coragem, tenho espírito forte, capaz de suportar difíceis encargos, sinto-me livre e jovem! Fiquei contente quando descobri isso pela primeira vez, pois creio que não me curvarei facilmente aos golpes que, inevitavelmente, atingem a todos.

Mas já falei nestas coisas muitas vezes. Quero agora abordar o capítulo "papai e mamãe não me compreendem". Papai e mamãe sempre me encheram de mimos, foram carinhosos, defenderam-me, fizeram tudo o que os pais podem fazer. Mesmo assim, durante longo tempo senti-me terrivelmente isolada, rejeitada, desprezada e mal compreendida. Papai fez o que pôde para conter minha rebeldia, mas não adiantou, eu é que me curei sozinha enxergando e procurando corrigir meus erros. Como foi que papai jamais conseguiu me sustentar em minhas lutas, como foi que ele errou por completo, mesmo querendo estender-me a mão? Porque ele escolheu o método errado, falando-me sempre como a uma criança que está atravessando uma fase difícil. Parece idiotice dizer isso, pois papai foi o único que sempre me deu um crédito de confiança fazendo com que eu me sentisse ajuizada. Mas uma coisa ele não percebeu — compreende? —, não percebeu que, para mim, a luta por chegar ao fim era o mais importante de tudo. Não me interessa ouvir falar sobre "coisas da idade", "outras meninas" ou "é uma fase que passa"; eu não queria ser tratada como as outras meninas, mas como Anne e por meus próprios méritos. Infelizmente Pim não percebeu isso. Acontece que eu não posso confiar em quem também não me abra seu coração e, como sei muito pouco de Pim, sinto que jamais seremos muito íntimos. Pim sempre toma as tradicionais atitudes paternais dizendo que ele também passou por fazes semelhantes às minhas. Nunca vai poder relacionar-se comigo como amigo, nem que o tente com a maior boa vontade.
Penso muito nisto: por que será que Pim me irrita? E de tal forma que detesto que me ensine qualquer coisa? Suas maneiras afetuosas me parecem afetadas; queria que me deixasse em paz e preferia mesmo que me esquecesse por algum tempo, até que me sentisse mais segura em minha atitude para com ele. Ainda me rói um sentimento de culpa por causa daquela carta horrível que escrevi a ele, no tempo em que eu andava supertensa. Como é difícil ser realmente forte e corajosa em todos os sentidos!
Mas esse não foi meu maior desapontamento. Peter atingiu-me mais que papai. Bem sei que fui eu quem o conquistou, não ele a mim. Formei em minha mente uma imagem de Peter, pintei-o como um rapaz quieto e sensível, digno de amor, carente de afeição e carinho. Precisava de alguém para com ele abrir meu coração; queria um amigo que me ajudasse a encontrar o caminho certo. Devagar, mas com segurança, atraí Peter para mim. Finalmente, ao conseguir que ele se tornasse amigo, automaticamente desenvolveu-se entre nós uma intimidade que, pensando bem, eu não deveria ter permitido.



Falamos em coisas bem íntimas e no entanto, até hoje, jamais tocamos nas coisas que enchiam e ainda enchem minha alma e meu coração. Ainda não sei o que pensar de Peter. Será ele superficial ou ainda acanhado, mesmo comigo?
Sem contar com isso, no meu desejo premente de afeição, cometi um erro: tentei chegar a ele por meio de um relacionamento íntimo, quando devia ter explorado todas as outras possibilidades. Ele deseja muito ser amado, e noto que está começando a se apaixonar por mim. Nossos encontros o satisfazem, ao passo que em mim, apenas despertam a vontade de, mais uma vez, ver o que consigo dele. Entretanto, não sei por quê, não toco nos assuntos que mais desejaria esclarecer. Peter está muito mais preso a mim do que pensa. Está apegado demais, e por enquanto não vejo maneira de sacudi-lo e fazê-lo firmar-se nos próprios pés. Ao compreender que ele não poderia ser para mim nem mesmo um amigo (no verdadeiro sentido que dou à palavra), pensei que ao menos poderia tentar arrancá-lo de sua estreiteza de mente e fazer com que realizasse qualquer coisa de proveitoso com sua juventude.
“Pois em suas mais íntimas profundezas, a juventude é mais solitária que a velhice.” Li esta frase em algum livro, acho-a verdadeira e lembro-me sempre dela. Será verdade que os mais velhos passam por maiores dificuldades que nós? Não, sei que não é assim. Gente adulta já tem opinião formada sobre as coisas e não hesita antes de agir. É muito mais duro para nós, jovens, manter a firmeza e as opiniões em tempos como estes em que os ideais são destruídos e despedaçados, as pessoas põem à mostra seu lado pior e ninguém sabe mais se deve crer na verdade, no direito e em Deus.

Anne, pensativa... Então imaginamos: "em que Anne estaria pensando?..."



Quem afirma que os mais velhos passam por dificuldades maiores certamente não compreende a que ponto nossos problemas pesam sobre nós; problemas para os quais somos jovens demais mas que aparecem continuamente até que acreditamos, depois de muito tempo, haver encontrado uma solução; só que a solução parece não resistir aos fatos que, de novo, a reduzem a nada. Esta é a maior dificuldade desses tempos: surgem dentro de nós ideais, sonhos e esperanças, só para encontrarem a horrível verdade e serem destruídos.
Realmente, é de admirar que eu não tenha desistido de todos os meus ideais, tão absurdos e impossíveis eles são de se realizar. Conservo-os, no entanto, porque apesar de tudo ainda acredito que as pessoas, no fundo, são realmente boas. Simplesmente não posso construir minhas esperanças sobre alicerces formados de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo transformar-se gradualmente em uma selva. Sinto que estamos cada vez mais próximos da destruição. Sofro com o sofrimento de milhões e, no entanto, se levanto os olhos aos céus, sei que tudo acabará bem, toda essa crueldade desaparecerá, voltarão a paz e a tranquilidade.
Enquanto isso, é necessário que mantenha firme meus ideais, pois talvez chegue o dia em que os possa realizar.
Sua Anne.






















Sexta-feira, 21 de julho de 1944










Querida Kitty

Agora estou ficando realmente esperançosa. Finalmente as coisas vão bem, muito bem mesmo! Houve um atentado contra a vida de Hitler, e desta vez não foi ato de judeus comunistas ou capitalistas ingleses; foi um orgulhoso general alemão, e — o principal — ele é conde e bastante jovem. A Divina Providência salvou a vida do Führer, e infelizmente ele conseguiu escapar com apenas alguns arranhões e queimaduras. Alguns generais e oficiais que estavam com ele ficaram feridos ou morreram. O principal culpado foi fuzilado.
De qualquer modo, essa é uma prova de que existem muitos oficiais e generais que estão fartos da guerra e gostariam de ver Hitler despencar num abismo sem fundo.
Com a deposição de Hitler, seria estabelecida uma ditadura militar que fizesse as pazes com os Aliados. Então, rearmar-se-iam para outra guerra, dentro dos próximos vinte anos. Talvez seja de propósito que o Divino Poder esteja tardando em afastá-lo do caminho, pois seria bem mais fácil e vantajoso para os Aliados se os impecáveis alemães se matassem entre si; diminuiria o serviço dos russos e ingleses, e estes poderiam principiar a reconstrução de suas próprias cidades mais cedo.
Enfim, ainda não chegamos lá e não me quero antecipar aos gloriosos acontecimentos. Você deve ter notado que isso tudo é pura realidade e que hoje estou de humor positivo; por uma vez na vida não estou alardeando meus altos ideais. O pior é que Hitler teve a gentileza de anunciar ao seu fiel e dedicado povo que, de agora em diante, as forças aramadas estarão subordinadas à Gestapo e todo soldado que souber que um de seus superiores andou envolvido naquele covarde atentado à sua vida pode fuzilar esse superior na hora, sem conselho de guerra.


Que belo massacre vai ser! Se doerem os pés de Johann durante sua longa marcha, se seu oficial berrar com ele, Johann agarra o fuzil e grita: "Você queria matar o Führer, aqui está sua recompensa". Um balaço, e o altivo chefe que ousara berrar com Johann vai para a vida eterna (ou será morte eterna?). Agora, sempre que um oficial tiver que chamar a atenção de um soldado poderá acusá-lo e matá-lo. Você está compreendendo o que quero dizer ou será que andei pulando demais de um assunto para outro? Não posso evitar; a perspectiva de voltar outra vez para a escola, em outubro, deixa-me alegre demais para ser lógica! Ora, eu não lhe havia dito que não queria me encher de esperanças? Perdoe-me, não foi sem motivo que me apelidaram de "pequeno feixe de contradições".
Sua Anne.



Terça-feira, 1.º de agosto de 1944
Querida Kitty
"Pequeno feixe de contradições." Foi assim que terminei minha última carta e é assim que desejo principiar esta. "Um pequeno feixe de contradições." Pode me dizer exatamente o que é isto/ Que quer dizer contradição? Como acontece com tantas outras palavras, pode significar duas coisas: contradição de fora e contradição de dentro.
A primeira é a costumeira “não cede facilmente, sempre sabe mais, tem sempre a última palavra”, enfim, todas as qualidades desagradáveis de que me acusam. Da segunda, ninguém sabe, o segredo é meu.
Já disse a você, certa vez, que possuo dupla personalidade. Em uma delas encontra-se minha alegria exuberante, que faz graça de tudo, meu entusiasmo e principalmente a maneira como levo tudo na brincadeira. Talvez por isso não me ofenda um flerte, um beijo, um abraço, uma anedota suja. Esta está quase sempre à espreita e empurra o outro, que é muito melhor, mais profundo e mais puro. Você precisa compreender que ninguém conhece o lado melhor de Anne, e é por isso que a maioria das pessoas me acha insuportável. Se durante uma tarde faço uma porção de palhaçadas, todos se fartam de mim por um mês. Realmente, é como filme de amor para pessoas de mentalidade séria: simples distração que diverte, sem chegar a ser boa. Envergonho-me de contar isso a você, mas como é verdade, vou falar. Meu lado superficial e frívolo está sempre mais alerta que o lado profundo, e por isso há de sair sempre vencedor. Você nem imagina quantas vezes tentei empurrar para longe essa Anne. Tentei mutilá-la, escondê-la, porque, afinal de contas, ela é apenas metade do total que se chama Anne; mas não adianta, e eu sei, também, por que não adianta.
Tenho muito medo de que as pessoas que me conhecem superficialmente venham a descobrir que possuo um outro lado, melhor, mais bem-cuidado. Receio que riam de mim, que me achem ridícula e sentimental, que não me levem a sério. Estou acostumada a não ser levada a sério, mas é só a Anne despreocupada que se acostumou a isso e o suporta. A Anne mais profunda é sensível demais para tal. Se realmente obrigo a Anne boa a ir para o centro do palco, nem que seja por quinze minutos, ela se encolhe toda e acaba cedendo o lugar à Anne número 1, e antes que perceba o que se passa, vejo que desapareceu.
A boa Anne, portanto, não aparece quando tem gente, até hoje nunca se mostrou, nem uma só vez, mas é a que predomina quase sempre quando estamos a sós. Sei exatamente como desejaria ser, como sou, aliás... lá no íntimo. Infelizmente sou assim só para mim mesma. E estou certa de que é por isso mesmo que eu digo que intimamente tenho um gênio bom e que os outros pensam que exteriormente é que tenho gênio bom. No íntimo sou guiada pela Anne pura , mas exteriormente não passo de uma cabritinha travessa, à solta.
Como já disse, nunca expresso meus sentimentos verdadeiros sobre coisa alguma, e foi assim que adquiri a fama de namoradeira, sabe-tudo e leitora de histórias de amor. A Anne jovial dá risada, uma resposta atrevida, sacode os ombros com indiferença, comporta-se como se não ligasse, mas as reações da Anne silenciosa são exatamente o oposto. Para ser sincera, devo admitir que isso me magoa, que tento mudar por todos os meios, mas que estou sempre em luta contra um inimigo muito mais poderoso.
Dentro de mim soluça sempre a mesma voz: "Pronto, nisto é que você se tornou! Sem caridade, ares superiores, atrevida. Ninguém gosta de você, e isso por você não atender aos conselhos da sua metade melhor".
Bem queria atender, mas não adianta; se fico sossegada e séria, todos pensam que estou tramando alguma e, então, tenho que sair da situação inventando nova brincadeira; isso sem falar na minha própria família, que certamente pensaria que estou doente e me faria engolir comprimidos para dor de cabeça, para os nervos, me apalparia o pescoço e a cabeça para ver se tenho febre, me perguntaria se ando com prisão de ventre e, não achando nada, acabaria me criticando por meu mau humor. Não aguento esses cuidados: se me fiscalizam fico malcriada, depois infeliz e, finalmente, viro meu coração do avesso para que o lado mau fique de fora e o bom para dentro, e continuo tentando encontrar a maneira de ser como desejo ser, como poderia ser, se... se não houvesse mais ninguém vivo neste mundo...
Sua Anne.
~ Epílogo ~
O diário de Anne Frank termina aqui. No dia 4 de agosto de 1944 a Polícia de Segurança alemã, acompanhada por alguns holandeses nazistas, deu uma batida no escritório geral, obrigando Kraler a revelar a entrada para o Anexo Secreto. Todos os seus ocupantes, assim como Kraler e Koophuis, foram presos. No dia 3 de setembro, os prisioneiros judeus, após um período em Westerbork (o principal campo de concentração alemão na Holanda), foram enviados, amontoados em vagões de gado, para Auschwitz, o mais famoso centro de extermínio, na Polônia ocupada. (Kraler e Koophuis ficaram em campos de concentração holandeses durante alguns meses, antes de serem libertados).


O Anexo Secreto foi saqueado e destruído durante a batida policial. Alguns dias depois, misturados aos jornais velhos e lixo espalhados pelo chão, um limpador encontrou os cadernos onde Anne escrevera seu diário. Não sabendo do que se tratava, entregou-os a Miep e Elli. As duas moças, durante um severo interrogatório alemão a que foram submetidas, negaram terminantemente sua ajuda ao pequeno grupo judeu, e assim foram liberadas e salvas. Tendo guardado cuidadosamente o diário de Anne, entregaram-no a seu pai, Otto Frank, na sua volta, após o término da guerra.
Enquanto isso, os mais velhos do grupo adoeciam sob as terríveis condições de vida em Auschwitz. Van Daan foi mandado para a câmara de gás. Otto Frank escapou por um verdadeiro milagre, pois tinha sido enviado para um campo-hospital em novembro, e ali se encontrava ainda quando o campo foi libertado pelas forças soviéticas em 27 de janeiro de 1945. Juntamente com alguns poucos sobreviventes, ele foi removido para a Galícia e finalmente chegou ao porto de Odessa, no mar Negro, onde um navio neozelandês o conduziu de volta à Europa Oriental. Os outros prisioneiros do campo, cerca de onze mil, foram evacuados pelos alemães, à medida que os russos avançavam. Entre eles estava Peter van Daan, de quem nunca mais se teve notícia.
A caminho de Odessa, Otto Frank soube por um amigo holandês que sua mulher morrera a 5 de janeiro.
Quanto às duas meninas, foram enviadas para Bergen-Belsen, na Alemanha, dois meses após a morte da mãe. Ali Anne mostrou as mesmas qualidades de coragem e paciência na adversidade que a haviam caracterizado em Auschwitz. Em fevereiro de 1945, as duas irmãs contraíram tifo. Um dia, Margot, deitada num beliche ao lado da irmã, tentou levantar-se, mas, enfraquecida, caiu ao chão. No seu estado de doença e fraqueza, o choque foi mortal. A morte da irmã fez a Anne o que nada até então conseguira fazer: quebrantar seu espírito. Alguns dias depois, em princípio de março, Anne morreu.



Sobre a publicação do 'Diário'
Otto Frank sobreviveu e voltou para Amsterdã. Foi informado da morte de sua esposa e do traslado de suas filhas para Bergen-Belsen; mesmo assim, contando com a esperança de que ainda estivessem vivas. Em julho de 1945, a Cruz Vermelha confirmou as mortes de Anne e Margot e foi só então que Miep Gies lhe entregou o Diário. Depois de lê-lo, Otto comentou ter ficado admirado de como Anne havia mantido um registro tão exato e bem escrito do tempo em que estiveram juntos. Tratando de cumprir postumamente o desejo de Anne expressado no Diário de se tornar escritora, decidiu publicá-lo. Ao ser perguntado muitos anos depois sobre sua primeira reação, respondeu emocionado: "Nunca poderia imaginar que a minha pequena Anne fosse tão especial".
O Diário de Anne se inicia com uma apresentação toda especial de seus pensamentos íntimos, dando a entender que nunca permitiria que outros o lessem. Descreve docemente sua vida, sua família e amigos e sua “prisão” na casa de trás, ao mesmo tempo dando a conhecer sua ambição de escrever novelas e publicá-las. No verão de 1944, escutou uma transmissão de rádio de Gerrit Bolkestein — membro do governo holandês no exílio — que dizia que ao terminar a guerra criaria um registro público da opressão sofrida pela população de seu país sob a ocupação alemã. Mencionou a publicação de cartas e diários, de maneira que Anne decidiu que contribuiria com seu Diário. Começou a corrigir suas anotações, a excluir alguns trechos e a reescrever outros, em face de uma possível publicação. Em seu caderno original, anexou vários textos adicionais e folhas soltas. Criou apelidos para os membros do grupo e seus benfeitores. A família van Pels se converteu em Hermann, Petronella e Peter van Daan; Fritz Pfeffer passou a se chamar Albert Dussel. Otto Frank utilizou a versão original do Diário, conhecida como "versão A", e a versão corrigida, conhecida como "versão B", para produzir a primeira versão para ser publicada. Retirou algumas passagens, sobretudo as que se referiam a sua esposa em termos pouco carinhosos, assim como partes em que falava de detalhes íntimos a respeito de sua florescente sexualidade. Restaurou as verdadeiras identidades de sua família, mas manteve os apelidos das outras pessoas.
Otto Frank levou o diário para a historiadora Anne Romein, que tentou publicá-lo, sem êxito. Em seguida mostrou-o a seu marido Jan Romein, o qual escreveu um artigo sobre o livro intitulado “Kinderstem” (A voz de uma menina) no jornal Het Parool no dia 3 de abril de 1946. Escreveu que o diário "pausadamente expressado na voz de uma menina, mostra todo o ódio do fascismo, melhor que as evidências dos juízes de Nuremberg todas juntas". Seu artigo atraiu a atenção dos editores e o Diário foi publicado na Holanda em 1947 pela editora Contact, de Amsterdã, com o título "Het Achterhuis" (A casa de trás). Foi reimpresso em 1950. Em abril de 1955 aparece a primeira tradução do diário em espanhol intitulado "Las habitaciones de atrás" (tradução de Maria Isabel Iglesias, editorial Garbo, Barcelona).
Albert Hackett escreveu uma peça de teatro inspirada no Diário, estreada em Nova York em 1955, que recebeu o Prêmio Pulitzer de Teatro. A peça foi levada ao cinema em 1959 com o título O diário de Anne Frank. Foi protagonizada pela atriz Millie Perkins, e Shelley Winters, que caracterizou a senhora Van Pels, e conseguiu o Oscar de Melhor Atriz Secundária, que o doou a Casa de Anne Frank. O filme obteve uma boa acolhida e se fez merecedor de outros dois Oscar. Sem dúvida, isso contribuiu para aumentar ainda mais o interesse mundial pelo livro. O Diário foi crescendo em popularidade com o passar dos anos, e se tornou leitura obrigatória em vários países e em várias cidades dos Estados Unidos. Em fevereiro de 2008 estreou em Madrid o musical "El Diario de Ana Frank. Un Canto a la Vida". Foi a primeira vez que a Fundação Anne Frank cedeu os direitos a uma empresa para apresentar um musical sobre Anne Frank e sua obra em todo o mundo.
Em 1986, foi publicada um edição crítica do Diário. Compara passagens originais com passagens modificadas pelo pai, e inclui uma discussão relativa a sua autenticidade bem como dados históricos sobre sua familia.
Em 1988, Cornelis Suijk — antigo diretor da Fundação Anne Frank e presidente da Fundação para a educação sobre o Holocausto, situada nos Estados Unidos — anunciou que havia obtido cinco páginas que haviam sido eliminadas por Otto Frank do Diário antes de sua publicação. Suijk afirma que Otto Frank lhe entregou essas páginas pouco antes de sua morte em 1980. Nas páginas eliminadas constam comentários muito críticos de Anne Frank sobre o relacionamento entre seus pais e também sobre sua mãe. A decisão de Suijk de reclamar o direito autoral sobre as cinco páginas para com ele financiar sua fundação nos Estados Unidos causou controvérsia. O Instituto Holandês de Documentação da Guerra, atual proprietário do manuscrito, pediu que fossem devolvidas as páginas que faltavam. Em 2000 o Ministério Holandês de Educação, Cultura e Ciência fez uma doação de 300.000 dólares a fundação de Suijk e as páginas foram entregues em 2001. O que permitiu a inclusão nas novas edições do Diário.
Em 2004, foi publicado um novo livro na Holanda, intitulado "Mooie zinnen-boek" (Livro das belas citações), que continham fragmentos de livros e poemas curtos que Anne escreveu, a pedido de seu pai, durante sua permanência na "casa de trás".
– Elogio a Anne Frank e a seu diário
Em sua introdução na primeira edição do Diário nos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt o descreveu como "um dos mais sábios e comoventes comentários que ela havia lido sobre a guerra e seu impacto nos seres humanos". O escritor soviético Ilya Ehrenburg diria mais tarde: "uma voz que fala por seis milhões; a voz não de um sábio ou um poeta, mas a de uma menina comum". A medida que ia crescendo a fama de Anne Frank como escritora e humanista, ela se converteu em um símbolo do Holocausto e mais amplamente como uma representante contra o preconceito e a discriminação racial. Hillary Rodham Clinton, em seu discurso de ganhadora do Prêmio Humanitário Elie Wiesel em 1994, citou o Diário de Anne Frank e disse que "nos coloca de frente com a loucura da indiferença e o terrível preço que significa para nossos jovens", que relacionou com os acontecimentos ocorridos em Sarajevo, Somália e Ruanda. Após receber o prêmio humanitário da Fundação Anne Frank em 1994, Nelson Mandela se dirigiu a uma multidão em Johannesburgo, dizendo que havia lido o diário de Anne Frank enquanto estava na prisão e que "sentiu um grande alento com isso". Comparou a luta de Anne contra o nazismo com a sua própria contra o apartheid, traçando uma linha paralela entre as duas filosofias com o comentário "porque estas crenças são evidentemente falsas, e porque foram, e sempre serão, desafiadas por pessoas iguais a Anne Frank, e destinadas ao fracasso".
Na mensagem final da biografia sobre Anne Frank de Melissa Müller, Miep Gies disse que "Anne simboliza os seis milhões de vítimas do Holocausto", escrevendo: "a vida e a morte de Anne era seu próprio destino, um destino individual que se repetiu seis milhões de vezes. Anne não pode, e não deve, representar somente os muitos indivíduos aos que os nazistas roubaram suas vidas... Mas seu destino nos ajuda a aceitar a imensa perda que sofreu o mundo por culpa do Holocausto".
O Diário tem sido também elogiado pelo seu mérito literário. Comentando o estilo de redação de Anne, o judeu norte-americano Meyer Levin, que trabalhou com Otto Frank na dramatização do diário pouco depois de sua publicação, o elogiou por "manter a tensão de uma novela bem construída", enquanto que o poeta John Berryman escreveu que era uma representação única, não só da adolescência senão também do "processo misterioso e fundamental de uma menina que se converte em adulta, como acontece na realidade". Sua biógrafa Melissa Müller disse que escreveu "em um estilo preciso e admirável em sua franqueza". Seus escritos é em grande parte um estudo de personagens, e examina cada pessoa de seu círculo com um olho astuto, inflexível. É de vez em quando cruel e muitas vezes parcial, sobretudo em suas representações de Fritz Pfeffer e de sua própria mãe, e Melissa Müller explica que canalizou as "mudanças de humor normais na adolescência" através de sua obra. Seu exame de si mesma e dos que a rodeavam se mantém durante um longo período de modo introspectivo, analítico, demasiadamente autocrítico, e nos momentos de frustração relata a batalha que acontece em seu interior entre a "Anne boa" que deseja ser, e a "má" que acredita ser.

Capa da primeira edição holandesa (1947) do
Diário de Anne Frank, intitulada "A casa de trás".

Anne Frank – Uma biografia
O livro "Anne Frank – Uma biografia", de Melissa Müller, desvenda o mito de Anne Frank, autora do diário que se tornou um dos relatos mais impressionantes das atrocidades e horrores cometidos contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial... Leia um capítulo



Bibliografia: Anne Frank Fonds (2003), Informe Anual de 2003. – David Barnouw & Gerrold van der Stroom (2003). Who betrayed Anne Frank?, Instituto dos Países Baixos para a Documentação da Guerra. – Hillary Clinton Rodham (April 14, 1994). "Comentários pela Primeira Dama, Elie Wiesel Humanitarian Awards, Nova York". Discurso. – Silvia Edward (sem data). "Anne Frank (Annelies Marie Frank)". – Anne Frank; Susan Massotty (tradução); Otto Frank H. & Mirjam Pressler (editores) (1995). The Diary of a Young Girl - The Definitive Edition. Doubleday. – David Irving (1988). The 'False News' Trial of Ernst Zündel, 1988. Institute for Historical Review. – Carol Ann Lee (2000), The Biography of Anne Frank - Roses from the Earth. Viking. – Jacob Michaelsen B. (1997). "Remembering Anne Frank". findarticle.com. – Melissa Müller; Rita Kimber & Kimber, Com um comentário de Miep Gies (2000). – Anne Frank - The Biography. Metropolitan books. – Nelson Mandela (15 de agosto de 1994). Discurso de Nelson Mandela na inauguração da exposição sobre Anne Frank no Museu da África. Discurso. – Ruud van der Rol; Rian Verhoeven (para a Casa de Anne Frank); Anna Quindlen (Introdução); Tony Langham & Plym Peters (tradução) (1995). Anne Frank - Beyond the Diary - A Photographic Remembrance. Puffin. – Jan Romein (3 de abril de 1946). Cópia do jornal Het Parool, primeiro artigo publicado sobre o diário.

http://www.starnews2001.com.br/anne-frank/diary.htm

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